quarta-feira, 22 de abril de 2015

O racismo ”cientifico”dos professores (Transcrição)

Por agora chega sobre a padralhada racista. Vejamos agora o que os cientistas, professores e viajantes diziam da África e dos africanos.
Uma maneira de fazermos uma ideia das concepções que se espalhavam sobre a África durante 1600 e 1700 é observar os mapas então existentes sobre o continente. Na realidade os europeus, até ao meio dos anos 1800, pouco ou nada sabiam do interior de África uma vez que quase nenhum europeu aí tinha estado. Por isso, além das regiões costeiras que eram conhecidas, os mapas de África deviam de ser completamente em branco. Mas não eram! A fantasia dos cientistas foi deixada à solta e os mapas foram preenchidos com rios e montanhas, florestas e savanas, tudo isto cheio de monstros de todos os tamanhos e feitíos, à semelhança do elefante, terrivelmente perigosos e existindo num mundo mau e incivilisado.
Assim se escreviam também livros e folhetos. Um dos primeiros livros publicados sobre África, que teve um papel importante no debate científico de então em que formaram os conceitos dos europeus sobre o continente Áfricano. Foi o livro de Daniel Defoe ”Capitão Singleton” publicado em 1720. O livro, na realidade um romance, descreve a aventura de um grupo de náufragos na sua viagem a pé desde Madagascar, através de todo o continente até à costa ocidental. O grupo de náufragos passou por aventuras terríveis e cada página do livro compete com a anterior nas descrições mais incríveis sobre aventuras com tribos de homens animais. O grupo salvou-se à custa dos arcabuzes, a única lingua ”que esses selvagens indígenas repeitavam”.
Deste tipo de contos e outros semelhantes foram crescendo os grandes mítos da propaganda pela escravatura. Os comerciantes de escravos garantiam que na realidade os europeus faziam um favor aos negros africanos quando os vendiam como escravo e os negros finalmente podiam deixar a barbaridade africana.
O mesmo tema com certas variações apareceu em livros e folhetos que circulavam entre a classe instruída, em escolas e universidade. Num destes folhetos publicado em Liverpool em 1792 escreve-se ”Como os Áfricanos são os mais lascivos de todos os seres humanos, não será de crer que os gritos que soltam quando os arrancamos aos braços das suas mulheres resultam apenas do receio de nunca mais terem oportunidade de satisfazer as suas paixões lá nas terras para onde os embarcam?”
Desta maneira se escondia a verdade às pessoas na Europa sobre os africanos que eram raptados e para sempre enviados para longe das suas famílias.
Passados cem anos, no ano de 1896, a situação não tinha melhorado. Na realidade o tom ”cientifico” na propaganda rasista tinha aumentado. O professor Keane escreveu por exemplo sobre os africanos que ”a sua inerente inferioridade mental, quase ainda mais marcada que as suas caracteristiscas físicas, depende de causas fisiológicas…”
Não esqueçamos que foram este tipo de conceitos que educaram e instruiram muítas gerações de europeus como se fossem verdades provadas. O aceitamento pelos intelectuais europeus das exigencias da classe dominante foi de tal maneira que muitos prestaram-se a contradizer os seus conhecimentos e experiencia pessoal para não contrariar o ambiente racista existente. O consul inglês, Sir Harry Johnston, escreveu em 1910 (!) a seguinte apreciação sobre o reino do Congo:
”Sem dúvida, a actuação dos portugueses …. Provocou alguns movimentos surpreendentes ao longo de toda a costa da África ocidental e na bacia meridional do Congo, movimentos que levaram à criação de alguns reinos organizados que criaram e estimularam o comércio e que, nos seus efeitos gerais sobre as pessoas, foram talvez menos horríveis que a anarquia de selvagens canibais”.
Não existe nem uma grama de verdade nas afirmações de Johnston. O reino do Congo existia muito antes de os portugueses chegarem a África e era uma sociedade estável onde as pessoas tinham um certo nível de bem estar. Os portugueses transformaram o Congo e as outras partes da costa litoral em campos de morte e escravidão, uma miséria humana e humilhação que aí ficou por centenas de anos.
Mas as declarações ”cientificas” de Sir Harry Johnston não se limitaram a esta questão. Ele continua:
”No que respeita à soma de infortúnio humano na África, é provável que o comércio de escravos entre aquele continente e a América pouco lhe tenha acrescentado. Até certo ponto, terá até mitigado o sofrimento do negro na sua própria terra, pois uma vez tal comércio organizado, e já que era lucrativo vender um ser humano, muito homem, mulher ou criança que caso contrário podia ter sido morto por mero capricho, ou pelo gosto de ver correr sangue, ou como ingrediente saboroso de um banquete, passou a ser vendido a um negociante de escravos…”
Assim Sir Johnston fazia propaganda do comércio de escravos como sendo um maneira de os europeus se oporem ao canibalismo, uma maneira dos africanos não serem comidos por outros africanos! Sir Johnston repetia as opiniões dos negreiros de Liverpool, que chegavam a pretender que o comércio podia levar à África ”um surto de felicidade”!
Os livros de Sir Johnston contavam-se entre as obras mais importantes que se discutiam nas escolas e universidades. Que importância não tiveram as afirmações de Johnston e de outros como ele para aumentar e espalhar o racismo e dar-lhe uma certa autoridade? E outra questão opurtuna: quanto é que o Johnston e os outros não meteram ao bolso como pagamento da falsificação da realidade?
Aqui fica mais um exemplo do baixo nível intelectual, desta vez de 1928 (!), dos manuais britânicos clássicos sobre a história de África oriental do esritor R. Coupland:
”Com David Livingstone, abre-se um novo capítulo na história da África. Até aqui pode dizer-se que a África própriamente dita não tivera história…O grosso dos Áfricanos premanecera, durante séculos imemoriais, mergulhado em barbarismo. Pode quase parecer que tal fora uma disposição da Natureza…E assim permaneceram estagnados, sem progredir nem regredir…O coração da África mal batia”.
Veja-se lá isto, a história da África tinha começado com a chegada dos europeus!
Este tipo de opiniões, que no ano de 1929 eram dadas como se fossem verdadeira ciência, só pode ter origem num pensamento racista que destroi totalmente a investigação científica. Negar aos africanos a sua própria história é um dos piores crimes da classe dominante europeia. O objectivo era de uma maneira definitiva fazer dos africanos, seres sem dignidade humana e fazer aceitável e juridicamente legal, o comércio de escravos e o colonialismo de 1900.
A propaganda racista feita pelo capitalismo e pelo imperialismo não acabou com a sociedade moderna em que vivemos hoje. A classe dominante de hoje continua a defender os crimes do capitalismo contra a humanidade e opiniões velhas mais de mil vezes provadas como falsas, aperecem de novo como se fossem argumentos válidos.
Um dos escritores deste século, conhecido pela sua obra extensa (mais de dez livros) sobre os anos ”grandiosos” do imperialismo britânico é James A. Williamson. Williamson escreveu dois livros sobre Sir John Hawkins, o comerciante de escravos dos anos de 1500 que escolheu um homem negro acorrentado como simbolo do seu brasão.
Williamson, que é um grande admirador do negreiro Hawkins, explica a participação de Hawkins no comércio de escravos da seguinte maneira, no seu livro ”Hawkins of Plymouth” publicado em 1949.
”Nimgém via mal nenhum no comércio de escravos. John Hawkins, que queria conservar um nome respeitável, não se envergonhava de comerciar em escravos, senão não tinha escolhido para seu brasão um homem negro, acorrentado. Ele tinha visto as tiranías caprichosas e sanguentas a que os negros eram submetidos em África, ele sabia que alguns negros voluntáriamente se tinham entregado aos escravistas para daí escaparem, e ele sabia também que os negros eram valiosos nas colónias ocidentais e que por isso podiam estar certos de ser tratados pelos seus donos de uma maneira que essas pobres almas certamente achavam bom”.
Que mistura de falsificações históricas! Está hoje provado não existir a mais pequena verdade histórica na descrição que Williamson faz da situação em África no centenário de 1500, mas a classe capitalista continua a espalhar as fantasias de Williamson a novas gerações. O livro que faz do negreiro Hawkins um herói, foi de novo publicado em 1969 e está referido na prestigiosa Enciclopédia Britânica.
Esta Enciclopédia Britânica também é um caso triste de falta de memória. No exemplar desta enciclopédia de 1910 pode-se lêr que o negreiro John Hawins escolheu para seu brasão um homem negro acorrentado (he was granted a coat of arms with a demi-Moor or negro chained, as his crest). Esta informação desapareceu na última edição da Enciclopédia Britânica em 1995. Nos tempos de liberdade em que vivemos, os heróis da burguesia passaram a ser incómodos e há que esconder as façanhas. Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

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