quarta-feira, 22 de abril de 2015

A classe dominante europeia e o racismo (Transcrição)

A primeira casa real europeia que saiu pelos mares à caça de escravos foi a portuguesa.  Mas em breve aí estavam todas as outras vindo de Espanha, Holanda, Inglaterra, França, Alemanha, Dinamarka e Suécia com grandes investimentos no comércio com a África que quase na totalidade era o comércio de escravos.
As casas reais europeias e outras institiuções poderosas como a igreja cristã, exigiam o pagamento dos lucros sobre os investimentos o que significava um aumento constante do comércio de escravos aumentando sempre o número de barcos de negreiros que traficavam o oceano Atlantico e mais tarde também o Índico. A caça ao homem em África aumentou de uma maneira enorme, causando uma catástrofe social sem limítes nas sociedades africanas. Ao mesmo tempo os investidores europeus ficavam riquissimos.
Enfrentando a história do comércio de escravos hoje, podemos ser levados a pensar que tudo o que aconteceu fez-se sem problemas para os que detinham o poder nos países europeus, que a classe dominante na Europa não encontrou resistencia contra o comércio de escravos entre os povos europeus. Esta visão da história não corresponde há realidade.
A concepção de que os brancos como grupo se uniam contra os negros, a concepção de que na Europa não existia oposição ao comércio de escravos é geralmente aceite mas totalmente falsa. Esta concepção é um produto do que nos fazem aprender nos livros da escola.
Em que país, que no passado se dedicava ao comércio de escravos, existem hoje livros escolares que de uma maneira justa contam esta história terrível? Quando dão ao comércio de escravos a importância central que teve desde o ano 1500 até ao fim de 1800 durante o desenvolvimento da sociedade capitalista em que vivemos hoje? Hoje em dia o comércio de escravos só é normalmente referido em pequenas observações como se trata-se de um pequeno acontecimento sem importância.
Em Portugal tem-se, por exemplo, festejado nos últimos anos (1997), os 500 anos dos chamados ”descobrimentos” portugueses. Tem havido festas, discurssos, conferencias, exposições, livros novos sobre o tema, etc. Padres, doutores e professores participam em debates e palestras e escrevem artigos nos jornais (sempre bem pagos, claro está). Mas do comércio de escravos quase nunca se fala e quando é referido é como se se tratasse de um fenómeno sem importancia e sem consequencias para a sociedade em que vivemos hoje.
Qual é então o conhecimento que o povo português nestas comemorações obtém sobre os acontecimentos em África durante esses 500 anos? Um conhecimento histórico totalmente falso!
Da mesma maneira é o comércio de escravos tratado pelos governantes de todas os países europeus. A classe dominante hoje existente é a herdeira cultural da classe dos comerciante de escravos do passado e por isso tudo faz para esconder a verdade ao povo, quer dizer a nós próprios. Há que ter cuidado de não ir nas mentiras da classe dominante e investigar qual é a verdade sobre o passado. Há que ter cuidado com os que nos querem fazer acreditar que todas as pessoas na Europa tinham um interesse comum no comércio de escravos, que todos são culpados pelos crimes contra os povos de África.
A Europa na idade média era uma sociedade de classes onde existiam diferentes ideias e concepções sobre o desenvolvimento social, ideias e concepções essas dependentes da origem de classe. A razão porque nós hoje só conhecemos a concepção da classe dominante do passado, também no que respeita ao comércio de escravos, é que a classe dominante de então tinha todos os meios e poderes necessários para propagar a sua ideologia e opiniões e faze-las impôr á sociedade. Ao seu seviço tinham policias, padres, militares, prisões, juizes e propagandistas de todos os tipos, enfim tudo o que fazia parte do poder estatal. Tudo isto dominou a sociedade durante muitos anos e deixou uma herança funesta.
Mas na realidade existiam também os que eram contra o comércio de escravos e contra a opressão que dominava na Europa. Essas pessoas tinham poucas possibilidades de dar a conhecer as suas opiniões e foram esquecidas na investigação histórica sendo hoje um capitulo desconhecido do público em geral. Até mesmo na classe dominante do passado, entre a nobreza e o clero, existiram pessoas que se opuseram à guerra e ao comércio de escravos em África e que desta maneira foram contra o seu interesse de classe.
Ao contrário do povo, que era analfabeto e por isso mesmo não nos deixou as suas opiniões a não ser em passagens nos contos da classe dominante, os oponentes provenientes da classe dominante, embora também muítas vezes analfabetos, tinham a possibilidade de mandar escrever as suas opiniões e pareceres o que nos chega até hoje. Deixemos aqui um exemplo, talvez um dos primeiros opositores contra a matança que as classes dominantes europeias estavam a fazer em África. O seu nome era Infante D. João sendo sobrinho do Infante D. Henrique. O escrivão Rui de Pina foi encarregado de escrever as opiniões do Infante D. João sobre a guerra que os portugueses faziam contra os mouros em África, para onde a nobreza enviava os seus chefes e tropas em oposicão ao povo português que não queria deixar as suas casas e quintas.
O Infante D. João pensava que se a guerra era ao serviço de Deus ”todos não iriam com tal intenção que uns por honra, outros riqueza e ganança, besteiros, peõs e tôda outra gente, vão renegando, ainda que lhe preze; e quem mata Mouro com tal intenção não peca menos que matar Cristão; pois que serviço de Deus é dar tantas almas ao demo? Certamente mais se pode dizer deserviço que serviço”. Sém dúvida é este testemunho de muito interesse e só é pena hoje não sabermos o que pensavam o povo trabalhador que não queriam deixar as suas casas para ir fazer a guerra em África.
A classe no poder combatia toda a oposição e utilizava o aparelho de estado para fazer propaganda das suas opiniões. Por esta razão é muito importante conhecer o papel que estes propagandistas das classes dominantees tiveram no aparecimento do rasismo. Esses propagandistas, que eram dirigidos directamente pelas casas reais e pela oligarquia financeira, encontravam-se entre os professores nas escolas e universidades e nos prelados da igreja cristã, de onde os preconceitos rasistas se espalhavam com uma capa ”cientifica” e ”moral”. Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

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