domingo, 2 de agosto de 2015

segunda-feira, 22 de junho de 2015

http://gilsonsampaio.blogspot.com.br/2015/04/terceirizacao-ou-saudades-da-senzala.html?m=1

sábado, 20 de junho de 2015

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Relatório Mundial da UNESCO - Investir na diversidade cultural e no dialogo intercultural.

CAPITULO 2 : Diálogo Intercultural
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O dialogo intercultural requer o empoderamento de todos os participantes por meio da capacitação e projetos que divulguem a interação sem a perda da identidade pessoal ou coletiva.
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O êxito do diálogo intercultural não depende tanto do conhecimento dos outros como da capacidade básica de ouvir, da flexibilidade cognitiva, da empatiada humildade e da hospitalidade. Nesse sentido, e com o propósito de desenvolver o diálogo e a empatia entre jovens de diferentes culturas, foram postas em marcha numerosas iniciativas que vão desde projetos escolares até programas de intercâmbio com atividades participativas nos âmbitos da cultura, arte e desporto. Não há dúvida de que a arte e a criatividade dão testemunho da profundidade e plasticidade das relações interculturais, assim como das formas de enriquecimento mútuo que propiciam, para além de auxiliarem a contrariar as identidades fechadas e a promover a pluralidade cultural. Do mesmo modo,  as práticas e os  acontecimentos multiculturais, como o estabelecimento de redes de cidades mundiais, os carnavais e os festivais culturais podem ajudar a superar  barreiras criando momentos de comunhão e diversão urbanas. As memórias (recordações) divergentes têm sido causa de muitos conflitos ao longo da história. Ainda que por si só, o diálogo intercultural não possa resolver todos os conflitos políticos, econômicos e sociais, um dos elementos-chave do seu êxito consiste na criação de um acervo de memória comum que permita o reconhecimento das faltas cometidas e um debate aberto sobre memórias antagônicas. A formulação de uma versão comum da história pode revelar-se crucial para a prevenção de conflitos e para as estratégias a adotar no pós-conflito, dissipando um passado que continua a estar presente. A Comissão de Verdade e Reconciliação sul-africana e os processos de reconciliação nacional em Ruanda constituem  exemplos recentes da aplicação política dessa estratégia de recuperação. A promoção de “lugares de memória” (a prisão de Robben Island na África do Sul, a ponte de Mostar na Bósnia e os Budas de Bamiyan no Afeganistão) demonstra igualmente que o que nos diferencia pode também contribuir para nos unir, ao contemplarmos os testemunhos da nossa humanidade comum. Fortalecimento da autonomia A promoção do diálogo intercultural conflui em grande medida com a abordagem de identidades múltiplas. Não deveria encarar-se o diálogo como uma perda do próprio, mas como algo que depende do conhecimento que temos de nós mesmos e da nossa capacidade de passarmos de um conjunto de referências a um outro.  Requer o fortalecimento da autonomia de todos os participantes, mediante a atribuição de capacidades e projetos que permitam a interação, sem prejuízo da identidade pessoal ou coletiva Essa perspectiva pressupõe reconhecer os modos de funcionamento  etnocêntrico que frequentemente adotam as culturas dominantes e reservar um espaço maior aos sistemas de pensamento que admitem formas de saber exotéricas e esotéricas. O sucesso dos estudos cartográficos comunitários é um exemplo notável e ajudou a capacitar as populações indígenas que procuram recuperar no plano internacional o direito à terra e aos recursos ancestrais e um desenvolvimento autonomamente definido. Um dos principais obstáculos à acomodação de novas vozes na esfera do diálogo intercultural é a subordinação generalizada das mulheres a interpretações preponderantemente masculinas das tradições culturais. Em muitos contextos sociais cabe às mulheres desempenhar uma função diferenciada na promoção da diversidade cultural, pois muitas vezes são elas as portadoras de valores na transmissão do idioma, dos códigos e sistemas éticos, das crenças religiosas  e dos modelos de conduta. A desigualdade entre homens e mulheres é multidimensional e interage de modo sub-reptício com outras formas de desigualdade fundadas, nomeadamente, sobre critérios raciais, sociais ou econômicos. A chave para um processo de diálogo intercultural frutífero está no reconhecimento da igual dignidade dos participantes. Pressupõe reconhecer e respeitar as diferentes formas de conhecimento e os seus modos de expressão, os costumes e tradições dos participantes e os esforços por estabelecer um contexto culturalmente neutro que facilite o diálogo e que permita às comunidades expressar-se livremente. Isso é especialmente verdade no caso do diálogo interconfessional, dimensão crucial da compreensão internacional e, por conseguinte, da resolução de conflitos. Para além dos intercâmbios institucionais entre personalidades eruditas ou representativas, o diálogo interconfessional assume um relevo ainda maior quando e se procura incluir intercâmbios de variada natureza, nomeadamente associações locais  ou comunitárias, contando com a participação de populações autóctones, jovens, mulheres, a fim de procurar conciliar diferentes pontos de vista.

"Conferência de Durban", "Rota do Escravo" X Recomendação do Comite MInisterial dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Europa. Uma analógia justificavel, na busca da verdade Histórica (grifos meus)

Livro Branco sobre o Diálogo Intercultural
“Viver Juntos em Igual Dignidade”
Lançado pelos Ministros dos Negócios Estrangeiros do Conselho da Europa por ocasião da sua 118.ª reunião ministerial (Estrasburgo, 7 de Maio de 2008)
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4. Cinco abordagens de acção política para promover o diálogo intercultural
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4.3.1 Domínios-chave de competências: a cidadania democrática, a aprendizagem das línguas, a História
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A Recomendação do Comité de Ministros sobre o Ensino da História no Século XXI (2001)20 realça a necessidade de desenvolver nos estudantes a capacidade intelectual de analisar e de interpretar a informação de forma crítica e responsável através do diálogo, da investigação de factos históricos e de um debate aberto fundado numa visão plural, em particular sobre questões controversas e sensíveis. O ensino da História contribui para evitar a repetição ou a negação do Holocausto, dos genocídios e de outros crimes contra a humanidade, limpezas étnicas e violações maciças dos direitos humanos, para sanar as feridas do passado e promover os valores fundamentais mais caros ao Conselho da Europa; é um factor decisivo de reconciliação, de reconhecimento, de compreensão e de confiança mútua entre os povos. O ensino da História numa Europa democrática deverá ocupar um lugar essencial na formação de cidadãos responsáveis e activos e no desenvolvimento do respeito por todas as diferenças, fundado na compreensão da identidade nacional e dos princípios de tolerância. O ensino da História não pode constituir um instrumento de manipulação ideológica, de propaganda ou de promoção de valores ultranacionalistas, xenófobos, racistas ou anti-semitas e intolerantes. As investigações históricas e a História ensinada na escola não podem, de maneira alguma, ser compatíveis com os valores fundamentais e o acervo do Conselho da Europa se permitirem ou promoverem representações erróneas da História. O ensino da História deverá englobar a eliminação dos preconceitos e dos estereótipos, ao colocar em evidência, nos programas, as influências mútuas positivas que ocorreram entre diferentes países, religiões e escolas de pensamento no decurso da História da Europa, assim como o estudo crítico dos usos indevidos da História, quer se tratem de usos indevidos por negação de um facto histórico, por falsificação, por omissão, por ignorância ou por apropriação ideológica.
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Nota: 1 -  Conferência de Durban: Implementação e Desenvolvimento das Politicas de Promoção da Igualdade no Brasil.
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Após 10 anos da realização da Conferência de Durban, convocada pelas Organizações das Nações Unidas, em 2001 para discutir assuntos relacionados à discriminação racial, racismo e xenofobia é fundamental que se faça uma análise das ações implementadas no Brasil, com o objetivo de viabilizar as deliberações da referida conferência.
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Destaca-se também a implementação da Lei n°10.639/2003 que inclui no currículo oficial da Rede de Ensino fundamental e médio, a  obrigatoriedade da temática História e cultura afro brasileira. Para viabilizar essa ação, em 2010 a UNESCO no Brasil, em parceria com a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação (SECAD/MEC) e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCAR), viabilizaram a edição completa da Coleção História Geral da África, em Português. Em oito volumes, a obra cumpre a função de mostrar à sociedade que a história africana não se resume ao tráfico de escravos e à pobreza, porque fala da história de dentro do continente. Outra importante  iniciativa brasileira na matéria em questão foi a criação, através da Lei n° 12.289 de 20 de julho de 2010 da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – UNILAB, em Redenção, no estado do Ceará, com o objetivo de, entre outros, ministrar ensino superior, desenvolver pesquisas nas diversas áreas de conhecimento e promover a extensão universitária, tendo como missão institucional específica formar recursos humanos para contribuir com a integração entre o Brasil e os demais países membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – CPLP-, especialmente os países africanos, bem como promover o desenvolvimento regional e o intercâmbio cultural, científico e educacional.   Fonte: XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciência Sociais Diversidade e Desigualdades Salvador, realizado entre os dias 07 a 10 de agosto de 2011 - Universidade Federal da Bahia (UFBA)
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Nota 2 -  Breve referência sobre o projeto da UNESCO- "A Rota do Escravo"
Foi na 27ª Sessão da CG da UNESCO, em 1993, que, por iniciativa do Haiti e de vários países africanos, os Estados Membros da Organização confirmaram a necessidade de responder concretamente ao dever de memória, decidindo, pela Resolução 27/C.3.13, desenvolver o projeto que veio a denominar-se "A Rota do Escravo".
Orientado por um Comité Científico Internacional, O projeto foi lançado em 1994, em Ouidah, Benin, e tem desde então feito um extraordinário caminho, quebrando o silêncio sobre o tráfico negreiro, trazendo à luz do dia os traumas e as consequências desta história e as múltiplas transformações e as interações culturais que ela engendrou.
A UNESCO tem desenvolvido este projeto com parcerias importantes do Alto Comissariado para os Direitos Humanos, da Organização Mundial do Turismo, do Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios, da Fundação Cultural Palmarés, do Smithsoniam National Museum of African Americam History and Culture, do Centre for Black African Arts and civilization, dos mídia em todo o mundo e, evidentemente, com os apoios dos governos dos países membros da Organização.
Para assinalar o 20º aniversário do projeto, a UNESCO programou um conjunto de atividades comemorativas em sua Sede e fora da Sede e apelou aos Governos de todos os países membros a celebrarem a data com atividades que realcem os desafios e os objetivos do projeto e que promovam um aprofundamento dos conhecimentos não apenas da tragédia que foi o tráfico negreiro e a escravatura mas também do património cultural comum que esta realidade histórica deixou à humanidade e que deverá ser conservado, para memória. . Fonte: http://migre.me/pBFty

Descobrindo a África no Brasil - Genética de populações confirma unidade de escravos brasileiros notada por Rugendas há 200 anos Por: Sergio Pena - Publicado em 10/10/2008 | Atualizado em 11/12/2009

Escravos bantus no Brasil
Em um artigo fascinante, Robert Slenes, professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), relata como Rugendas argutamente observou que muitos daqueles escravos africanos, angolas, congos, bengüelas, monjolos, cabindas, rebolos, moçambiques, vindos das regiões mais variadas da África, rapidamente podiam conversar entre si.
De volta à Europa em 1825, Rugendas passou essas informações a estudiosos, incluindo um geógrafo e etnólogo italiano chamado Adriano Balbi (1782-1848). No seu tratado Atlas ethnographique du globe (‘Atlas etnográfico do globo’), Balbi proclamara a existência de uma grande família lingüística ao sul do Equador na África (excluindo os bosquímanos e hotentotes, é claro).

Cerca de três mil anos atrás, iniciou-se a chama “expansão bantu”. Um grupo lingüisticamente homogêneo da parte sudoeste da região onde hoje fica Camarões (mancha negra) iniciou um processo de migração, conquista territorial e expansão populacional que durou mais de mil anos e terminou com a ocupação pelos descendentes desse povo de grande parte da África central, austral e oriental.
Em seu artigo, Slenes cita Balbi: “No momento de soltar esta folha para ser impressa, um feliz acidente nos levou a conhecer o Sr. Maurice (Johann Moritz) Rugendas, chegado há pouco do Brasil”, onde “tivera a perspicácia de interrogar os numerosos africanos que o abominável comércio de escravos ainda leva a esse império do Novo Mundo”.
Somente em 1860 essa família lingüística (que sabemos hoje conter 87 línguas) receberia o nome de Bantu, palavra que significa “homem” na grande maioria desses idiomas. Como diz Slenes, “pode-se dizer, portanto, sem exagero, que através de Rugendas a Europa descobriu no Brasil uma parte importante da África”.
Como explicar tal unidade em uma grande região da África, continente caracterizado por extremo mosaicismo lingüístico? A explicação é que ocorreu uma notável expansão populacional histórica em escala continental, a chamada expansão Bantu (ver figura).
Cerca de 3 mil anos atrás, um grupo lingüisticamente homogêneo da parte sudoeste da região que é hoje Camarões iniciou um processo de migração, conquista territorial e expansão populacional. Esse processo durou mais de mil anos e terminou com a ocupação pelos descendentes desse povo de grande parte da África central, austral e oriental.
Um estudo genético de brancos brasileiros
Com base nos critérios de autoclassificação do censo de 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população brasileira era composta por 53,4% de brancos, 6,1% de pretos e 38,9% de pardos. O que representam esses números em termos de ancestralidade genética?
Em preparação para as comemorações em torno de 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, fizemos uso de marcadores genômicos para mapear, na população autodeclarada branca do Brasil, as distribuições geográficas das ancestralidades ameríndia, européia e africana. O trabalho foi publicado na Ciência Hoje de abril de 2000, mês exato da comemoração, com o título "Retrato molecular do Brasil".
Para isso, amostras de DNA da população do Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil foram estudadas com dois marcadores moleculares: o cromossomo Y para estabelecer linhagens paternas (patrilinhagens) e o DNA mitocondrial para estabelecer linhagens maternas (matrilinhagens) – leia na coluna de agosto sobre como essas ferramentas permitem a realização de pesquisas de genealogia.
Nosso estudo revelou que a esmagadora maioria das linhagens paternas da população branca do país veio da Europa. Porém, surpreendentemente, as linhagens maternas no Brasil como um todo mostraram uma distribuição bastante uniforme quanto às origens geográficas: 28% de linhagens africanas, 33% de ameríndias e 39% de européias.
Como esperado, a freqüência relativa desses três grupos filogeográficos variou consideravelmente entre as quatro regiões brasileiras analisadas. A maioria das linhagens mitocondriais no Norte era de origem ameríndia (54%), enquanto a ancestralidade africana era mais comum no Nordeste (44%) e a européia no Sul (66%). O Sudeste apresentou um equilíbrio nas freqüências das três origens geográficas. Fonte: ICH   http://migre.me/pAXcF

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Parte 03 - OS MINAS EM MINAS: TRÁFICO ATLÂNTICO,REDES DE C0MÉRCIO E ETNICIDADE

 
Comboio de Escravos - Fonte: http://migre.me/g5tEh
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Nos primeiros dez anos que se seguem à descoberta do ouro é montado um ineficiente aparato fiscal, com vistas à taxação do ouro. O "Caminho Novo", sem passagem por Paraty, é aberto por Garcia Rodrigues Pais Leme, em 17105, mas, por muitos anos, a chamada Estrada Geral da Serra dos Órgãos é apenas uma estreita  trilha. O ano de 1710 pode ser considerado um marco na organização do tráfico negreiro na capitania do Rio de Janeiro. Neste ano é elevada para 4.500 réis a taxa cobrada por escravo enviado às minas. Já então grande parte desses escravos vêm do Nordeste, com escala em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Paraty, de onde seguem, por terra, até as lavras de our0
• Por volta de 171 O já há um mercado de escravos bem regulad07
• Júnia Furtado mostra como o comércio de escravos em Minas envolve, na primeira metade do século XVIII, grandes comboieiros que vêm do Rio de Janeiro e da Bahia com carregamentos para as minas. Os escravos levados para as minas vêm, muitas vezes, já encomendados, e sua compra é paga antecipadamente; outros são arrematados nos leilões pelos comboieiros e revendidos depois8   Fonte: Maria de Carvalho Soares Universidade Federal Fluminense - S621 Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20: 1999: Florianópolis) História: fronteiras / Associação Nacional de História. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP: ANPUH, 1999.
http://anpuh.org/anais/?p=16221
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Parafraseando: Já então grande parte desses escravos vêm do Nordeste, com escala em Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Paraty, de onde seguem, por terra, até as lavras de our0, via Alto da Serra, (Garganta do Sapucai, Desfiladeiro de Itajubá, Registro de Itajubá, Caminho de Fernão Dias), em conformidade com o Mapa, espaço colonial de Piquete-SP. Então denominado, Caminho Geral do Sertão, Caminho Velho, Estrada Real do Sertão, Caminho dos Paulista.  

Fonte: Carta corográfica - Cap. de S. Paulo, 1766 .Apresentando o Estado Político da Capitania de São Paulo em 1766, foi elaborada esta carta, com particular atenção aos limites com Minas Gerais. (http://migre.me/aWncu)
 
 

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Congo Belga – 10 milhões assassinados! (Transcrição)

Para dar ao leitor uma visão concreta do que foi a colonização da África, vou deixar aqui o testemunho do missionário sueco E. V. Sjöblom sobre a sua estadia no Estado livre do Congo. A citação é longa mas necessária. Veja o leitor também qual foi a reação de Sjöblom aos acontecimentos que presenciou, relacionados com a recolha obrigatória do caucho, o látex da borracha.
”Continuando o meu caminho fui saudando os indigenas amigávelmente. Como habitualmente consegui afastar o medo e, pelo menos em parte, ganhar a sua afecção. Alguns jovens seguiram-me e quando chegámos ao acampamento já lá estávam um grande grupo de pessoas. Outros indígenas iam voltando do trabalho de ir buscar cauchu à floresta. Pouco tempo passado estavam já várias centenas de pessoas reunidas à minha frente.
De repente um dos soldados – também indígena mas de outra aldeia – agarrou um homem de idade e amarrou-o. O soldado virou-se para mim e disse:
-          Eu vou matar este homem porque ele não trousse nenhum cauchu.
Eu respondi: Na realidade eu não tenho nada a vêr com isso e não tenho direito de te impedir. Mas eu desejaria que tu não o fizesses na minha presença, quando estão tantas pessoas aqui para ouvir a palavra de Deus.
Ele respondeu: Se nós não matamos os que vêm sem cauchu, os oficiais do estado livre matam-nos a nós. É melhor matarmos outros do que sermos mortos.
Assim que ele disse isto, dirigiu-se ao homem velho como um tigre atiçado. Arrastou-o alguns passos para fora do grupo, apontou a espingarda à cabeça do homem e matou-o. De seguida pôs outra bala na espingarda e apontou ao grupo de pessoas que desapareceu rápidamente. Estava com medo de ser atacado e queria meter medo aos que estavam reunidos.
Durante alguns minutos estivemos todos calados. O grupo tinha fugido e eu e os meus homens estávmos calados. Em seguida o soldado mandou um menino de nove anos cortar a mão direita do morto. Esta mão com muitas outras mãos, que tinham sido decepadas pelo mesmo motivo, tinham que ser entregues ao comissário como um sinal da vitória da civilização”.
 
A razão desta coleção de mãos decepadas é que por cada cartucho utilizado pelos soldados tinha que ser entregue uma mão direita decepada aos oficiais do exército do Estado livre do Congo. Nenhuma bala podia desaparecer, todas tinham que ter um equivalente em mãos decepadas. Às vezes acontecia que os soldados se utilizavam das espingardas na caça e para darem conta das balas aos oficiais, agarravam uma pessoa viva i cortavam-lhe a mão direita. Dezenas de milhares de cartuchos sem balas eram entregues regularmente aos oficiais do estado livre com o mesmo número de mãos direitas decepadas de pessoas mortas ou vivas.
 
Cada cartucho utilizado, uma mão a entregar
Escravatura total das pessoas no Congo
 
 Mas o número de mortos era maior do que as mãos entregues. As crianças eram muitas vezes assassinadas pelos soldados a golpe de pancada com as espingardas. No ano de 1919 uma comissão oficial belga chegou à conclusão que a população do Estado livre do Congo-Congo Belga, tinha diminuido para metade depois da ocupação europeia em 1884. Uma diminuição para metade em 35 anos! Trata-se de pelo menos 10 milhões de pessoas mortas!
Os soldados inculpados neste morticíno estavam incluídos numa força especial de legionários negros comandada por corpo de oficiais branco sob as ordens do general-major Emile Janssen. Janssen deu ordem aos chefes das aldeias de lhe mandarem ”os piores elementos”, os quais foram incorporados com uma ”disciplina absoluta” durante um periodo de sete anos, uma lavagem ao cérebro com o nome de ”Boula Matari”, ou seja o nosso rei ”soverano na Belgica e no Congo, dois reinos unidos para sempre”.
Segundo o próprio general-major Janssen esses homens eram treinados para terem uma lealdade absoluta para com o rei e o país colonizador. Segundo ele tinham ”todos os meios desponiveis sido utilizados: escolas, jornais, radio, apoio social, control da polícia politica G2, oficiais de inteligencia e informação” nesta lavagem cerebral. Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

Parte 02 - OS MINAS EM MINAS: TRÁFICO ATLÂNTICO, REDES DE COMÉRCIO E ETNICIDADE (Transcrição)

OS MINAS EM MINAS: TRÁFICO ATLÂNTICO, REDES DE COMÉRCIO E ETNICIDADE: Excetuando-se o caso da Bahia, as rotas de distribuição de escravos procedentes da Costa da Mina para diferentes pontos  das capitanias do sul, ao longo do século XVIII, têm sido menosprezadas pelos historiadores do tráfico atlântico1 
• Em trabalhos anteriores procurei destacar duas idéias que são o ponto de partida  para essa nova reflexão. Em primeiro lugar, ao tratar do tráfico  de escravos africanos e das formas de organização desses escravos  no cativeiro é indispensável considerar sua diversidade, seja  pela identificação étnica, seja por outras identidades configuradas  no cativeiro 2
• Ao contrário do que tem sido afirmado pela  historiografia, os chamados "mina" não são um grupo étnico e sim o resultado da reorganização de diferentes grupos étnicos procedentes da Costa da Mina que, a partir do século XV. em  função da configuração do Império português, passam a ser assim
designados. É o caso dos maki (ou mahi, como são chamados na Bahia) um dos principais grupos étnicos designados no Rio de Janeiro como "mina". Ao longo do século XVIII e mesmo na primeira metade do XIX, pude localizá-los na Bahia, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e em Goiás.
Fonte: Maria de Carvalho Soares Universidade Federal Fluminense - S621 Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20: 1999: Florianópolis) História: fronteiras / Associação Nacional de História. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP: ANPUH, 1999. 
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Nota: (Rugendas se encantou particularmente com a ampla variedade de povos africanos no Rio de Janeiro, que captou em sua arte (ver figura). Como relatado por ele, “em um só golpe de vista o artista pode conseguir resultados que, na África, só atingiria através de longas e perigosas viagens a todas as regiões dessa parte do mundo”. )


Montagem (feita pelo colunista) de retratos de escravos de várias origens geográficas, pintados por Johann Moritz Rugendas no Rio de Janeiro, durante a década de 1820. Cada escravo(a) é identificado(a) por sua etnia, como se segue: (1) Angola, (2) Congo, (3) Bengüela, (4) Monjolo, (5) Cabinda, (6) Quiloa, (7) Rebolo, (8) e (9) Moçambique, (10) Mina. As etnias de 1-5 e 7 são da África central, 8-9 são do sudeste africano e 10 é da África ocidental. A presença de um escravo Quiloa é peculiar, pois essa é uma etnia da África Oriental, região da qual vieram muito poucos escravos para o Brasil. Todos, com exceção da escrava da Mina, falavam dialetos da família Bantu. Fonte: http://migre.me/pAXcF
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O racismo ”cientifico”dos professores (Transcrição)

Por agora chega sobre a padralhada racista. Vejamos agora o que os cientistas, professores e viajantes diziam da África e dos africanos.
Uma maneira de fazermos uma ideia das concepções que se espalhavam sobre a África durante 1600 e 1700 é observar os mapas então existentes sobre o continente. Na realidade os europeus, até ao meio dos anos 1800, pouco ou nada sabiam do interior de África uma vez que quase nenhum europeu aí tinha estado. Por isso, além das regiões costeiras que eram conhecidas, os mapas de África deviam de ser completamente em branco. Mas não eram! A fantasia dos cientistas foi deixada à solta e os mapas foram preenchidos com rios e montanhas, florestas e savanas, tudo isto cheio de monstros de todos os tamanhos e feitíos, à semelhança do elefante, terrivelmente perigosos e existindo num mundo mau e incivilisado.
Assim se escreviam também livros e folhetos. Um dos primeiros livros publicados sobre África, que teve um papel importante no debate científico de então em que formaram os conceitos dos europeus sobre o continente Áfricano. Foi o livro de Daniel Defoe ”Capitão Singleton” publicado em 1720. O livro, na realidade um romance, descreve a aventura de um grupo de náufragos na sua viagem a pé desde Madagascar, através de todo o continente até à costa ocidental. O grupo de náufragos passou por aventuras terríveis e cada página do livro compete com a anterior nas descrições mais incríveis sobre aventuras com tribos de homens animais. O grupo salvou-se à custa dos arcabuzes, a única lingua ”que esses selvagens indígenas repeitavam”.
Deste tipo de contos e outros semelhantes foram crescendo os grandes mítos da propaganda pela escravatura. Os comerciantes de escravos garantiam que na realidade os europeus faziam um favor aos negros africanos quando os vendiam como escravo e os negros finalmente podiam deixar a barbaridade africana.
O mesmo tema com certas variações apareceu em livros e folhetos que circulavam entre a classe instruída, em escolas e universidade. Num destes folhetos publicado em Liverpool em 1792 escreve-se ”Como os Áfricanos são os mais lascivos de todos os seres humanos, não será de crer que os gritos que soltam quando os arrancamos aos braços das suas mulheres resultam apenas do receio de nunca mais terem oportunidade de satisfazer as suas paixões lá nas terras para onde os embarcam?”
Desta maneira se escondia a verdade às pessoas na Europa sobre os africanos que eram raptados e para sempre enviados para longe das suas famílias.
Passados cem anos, no ano de 1896, a situação não tinha melhorado. Na realidade o tom ”cientifico” na propaganda rasista tinha aumentado. O professor Keane escreveu por exemplo sobre os africanos que ”a sua inerente inferioridade mental, quase ainda mais marcada que as suas caracteristiscas físicas, depende de causas fisiológicas…”
Não esqueçamos que foram este tipo de conceitos que educaram e instruiram muítas gerações de europeus como se fossem verdades provadas. O aceitamento pelos intelectuais europeus das exigencias da classe dominante foi de tal maneira que muitos prestaram-se a contradizer os seus conhecimentos e experiencia pessoal para não contrariar o ambiente racista existente. O consul inglês, Sir Harry Johnston, escreveu em 1910 (!) a seguinte apreciação sobre o reino do Congo:
”Sem dúvida, a actuação dos portugueses …. Provocou alguns movimentos surpreendentes ao longo de toda a costa da África ocidental e na bacia meridional do Congo, movimentos que levaram à criação de alguns reinos organizados que criaram e estimularam o comércio e que, nos seus efeitos gerais sobre as pessoas, foram talvez menos horríveis que a anarquia de selvagens canibais”.
Não existe nem uma grama de verdade nas afirmações de Johnston. O reino do Congo existia muito antes de os portugueses chegarem a África e era uma sociedade estável onde as pessoas tinham um certo nível de bem estar. Os portugueses transformaram o Congo e as outras partes da costa litoral em campos de morte e escravidão, uma miséria humana e humilhação que aí ficou por centenas de anos.
Mas as declarações ”cientificas” de Sir Harry Johnston não se limitaram a esta questão. Ele continua:
”No que respeita à soma de infortúnio humano na África, é provável que o comércio de escravos entre aquele continente e a América pouco lhe tenha acrescentado. Até certo ponto, terá até mitigado o sofrimento do negro na sua própria terra, pois uma vez tal comércio organizado, e já que era lucrativo vender um ser humano, muito homem, mulher ou criança que caso contrário podia ter sido morto por mero capricho, ou pelo gosto de ver correr sangue, ou como ingrediente saboroso de um banquete, passou a ser vendido a um negociante de escravos…”
Assim Sir Johnston fazia propaganda do comércio de escravos como sendo um maneira de os europeus se oporem ao canibalismo, uma maneira dos africanos não serem comidos por outros africanos! Sir Johnston repetia as opiniões dos negreiros de Liverpool, que chegavam a pretender que o comércio podia levar à África ”um surto de felicidade”!
Os livros de Sir Johnston contavam-se entre as obras mais importantes que se discutiam nas escolas e universidades. Que importância não tiveram as afirmações de Johnston e de outros como ele para aumentar e espalhar o racismo e dar-lhe uma certa autoridade? E outra questão opurtuna: quanto é que o Johnston e os outros não meteram ao bolso como pagamento da falsificação da realidade?
Aqui fica mais um exemplo do baixo nível intelectual, desta vez de 1928 (!), dos manuais britânicos clássicos sobre a história de África oriental do esritor R. Coupland:
”Com David Livingstone, abre-se um novo capítulo na história da África. Até aqui pode dizer-se que a África própriamente dita não tivera história…O grosso dos Áfricanos premanecera, durante séculos imemoriais, mergulhado em barbarismo. Pode quase parecer que tal fora uma disposição da Natureza…E assim permaneceram estagnados, sem progredir nem regredir…O coração da África mal batia”.
Veja-se lá isto, a história da África tinha começado com a chegada dos europeus!
Este tipo de opiniões, que no ano de 1929 eram dadas como se fossem verdadeira ciência, só pode ter origem num pensamento racista que destroi totalmente a investigação científica. Negar aos africanos a sua própria história é um dos piores crimes da classe dominante europeia. O objectivo era de uma maneira definitiva fazer dos africanos, seres sem dignidade humana e fazer aceitável e juridicamente legal, o comércio de escravos e o colonialismo de 1900.
A propaganda racista feita pelo capitalismo e pelo imperialismo não acabou com a sociedade moderna em que vivemos hoje. A classe dominante de hoje continua a defender os crimes do capitalismo contra a humanidade e opiniões velhas mais de mil vezes provadas como falsas, aperecem de novo como se fossem argumentos válidos.
Um dos escritores deste século, conhecido pela sua obra extensa (mais de dez livros) sobre os anos ”grandiosos” do imperialismo britânico é James A. Williamson. Williamson escreveu dois livros sobre Sir John Hawkins, o comerciante de escravos dos anos de 1500 que escolheu um homem negro acorrentado como simbolo do seu brasão.
Williamson, que é um grande admirador do negreiro Hawkins, explica a participação de Hawkins no comércio de escravos da seguinte maneira, no seu livro ”Hawkins of Plymouth” publicado em 1949.
”Nimgém via mal nenhum no comércio de escravos. John Hawkins, que queria conservar um nome respeitável, não se envergonhava de comerciar em escravos, senão não tinha escolhido para seu brasão um homem negro, acorrentado. Ele tinha visto as tiranías caprichosas e sanguentas a que os negros eram submetidos em África, ele sabia que alguns negros voluntáriamente se tinham entregado aos escravistas para daí escaparem, e ele sabia também que os negros eram valiosos nas colónias ocidentais e que por isso podiam estar certos de ser tratados pelos seus donos de uma maneira que essas pobres almas certamente achavam bom”.
Que mistura de falsificações históricas! Está hoje provado não existir a mais pequena verdade histórica na descrição que Williamson faz da situação em África no centenário de 1500, mas a classe capitalista continua a espalhar as fantasias de Williamson a novas gerações. O livro que faz do negreiro Hawkins um herói, foi de novo publicado em 1969 e está referido na prestigiosa Enciclopédia Britânica.
Esta Enciclopédia Britânica também é um caso triste de falta de memória. No exemplar desta enciclopédia de 1910 pode-se lêr que o negreiro John Hawins escolheu para seu brasão um homem negro acorrentado (he was granted a coat of arms with a demi-Moor or negro chained, as his crest). Esta informação desapareceu na última edição da Enciclopédia Britânica em 1995. Nos tempos de liberdade em que vivemos, os heróis da burguesia passaram a ser incómodos e há que esconder as façanhas. Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

A igreja cristã espalha o racismo (Transcrição)

Uma das primeiras fontes que por escrito e com imagens descreveu a vida em África aos europeus, é um livro do frade Cavazzi, um missionário italiano da ordem dos Capuchinhos, publicado em Bolonha em 1687.
No seu livro, o frade Cavazzi dá a sua aprovação a todas fantasias e preconceitos que dos tempos longínquos existiam na Europa sobre o continente Áfricano e aumenta inclusivamente essas falsidades. Por exemplo conta o frade Cavazzi com todos os pormenores como os africanos são gente que gosta de carna humana e inclui também um desenho com uma cena de canibalismo em que se vê um grupo de africanos a cortar pessoas aos pedaços que são postos a cozer numa panela enorme para a refeição.
Além disso conta-nos o frade Cavazzi que os Áfricanos são gente sempre envolvida em guerras com muitos mortos. O frade Cavazzi escreve que: ”A dança, entre estes barbaros, não tem qualquer motivação no talento virtuoso de exibir movimentos corporais ou agildade de pés, mas apenas objectivos de satisfação depravada de apitites libidinosos”.
É fácil de compreender o impacto negativo que um livro destes teve na Europa do passado.
Mas na realidade o padre Cavazzi não foi o primeiro a fazer propaganda desta. Os primeiros que desde o início foram os propagandistas do racismo e do comércio de escravos foram os papas no Vaticano. Como já contámos foram os papas, que utilizando a sua grande autoridade moral, através das bulas, deram os direitos à classe dominante da Europa de em África ”atacar, conquistar e submeter Sarracenos, pagãos e outros descrentes inimigos de Cristo; a capturar os seus bens e territórios; a reduzi-los à escravatura perpétua”. Além disso os papas deram a todos os que participavam nas guerras e conquistas em África ”a absolvição total de todos os seus pecados” passados e futuros!
Talvez pense o leitor que este tipo de decreto papal foi sómente feito por papas no anos de 1400. Mas não foi assim! Antes de todas as guerras, saqueamentos e massacres, as chamadas conquistas portuguesas, os papas voltaram a repetir a ”absolvição de todos os pecados” que fossem cometidos. Estas declarações marcaram as acções de padres, frades, militares e todos os outros europeus em África e pelo mundo fora durante séculos. Na realidade, nenhum dos cinquenta e seis papas que existiram de 1947 até hoje, anulou ou pelo menos criticou as bula papais que fizeram do homem negro em África um objecto de caça que se podia matar ou condenar a escravatura prepétua. Na realidade, se considerarmos as formalidades da igreja cristã, ainda hoje essa bulas criminosas são válidas!
No passado as declarações dos papas tinham uma importancia muito grande nos conceitos e ideologias dos europeus. Mas a importancia das declarações dos papas nas vida e actividades dos religiosos em África e na sua maneira de considerar os africanos eram ainda mais importante. Quem estudar a verdadeira história de África vai encontrar uma história das actividades das igrejas e os missionários que é completamente diferente da história que as igrejas hoje pretendem impingir.
Os padres e frades andaram sempre de mão dadas com os saqueadores conquistadores e tiveram sempre os mesmos preconceitos raciais que estes tinham. Entre os religiosos em África existia desde o pricipio dos anos 1500 a concepção geral de que a ”melhor pregação” era feita com ”a espada e a barra de ferro”.
Assim explicava numa carta em 1563, o padre jesuita Anchieta (que em 1980 foi beatizado, declarado santo, pelo papa João Paulo II!), os métodos que os religiosos no Brasil utilizavam contra os índios. O santo Anchieta escrevia que ”…para este género de gente não há melhor pregação do que a espada e vara de ferro, porque para esta gente, mais que qualquer outra, tem que ser compelle eos intrare”. Anchieta faz aqui uma citação da bíblia, Lucas XIV 23 – compelle eos intrare – significa obrigar as pessoas a entrar, obrigar as pessoas a converterem-se à igreja cristã.  Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

A classe dominante europeia e o racismo (Transcrição)

A primeira casa real europeia que saiu pelos mares à caça de escravos foi a portuguesa.  Mas em breve aí estavam todas as outras vindo de Espanha, Holanda, Inglaterra, França, Alemanha, Dinamarka e Suécia com grandes investimentos no comércio com a África que quase na totalidade era o comércio de escravos.
As casas reais europeias e outras institiuções poderosas como a igreja cristã, exigiam o pagamento dos lucros sobre os investimentos o que significava um aumento constante do comércio de escravos aumentando sempre o número de barcos de negreiros que traficavam o oceano Atlantico e mais tarde também o Índico. A caça ao homem em África aumentou de uma maneira enorme, causando uma catástrofe social sem limítes nas sociedades africanas. Ao mesmo tempo os investidores europeus ficavam riquissimos.
Enfrentando a história do comércio de escravos hoje, podemos ser levados a pensar que tudo o que aconteceu fez-se sem problemas para os que detinham o poder nos países europeus, que a classe dominante na Europa não encontrou resistencia contra o comércio de escravos entre os povos europeus. Esta visão da história não corresponde há realidade.
A concepção de que os brancos como grupo se uniam contra os negros, a concepção de que na Europa não existia oposição ao comércio de escravos é geralmente aceite mas totalmente falsa. Esta concepção é um produto do que nos fazem aprender nos livros da escola.
Em que país, que no passado se dedicava ao comércio de escravos, existem hoje livros escolares que de uma maneira justa contam esta história terrível? Quando dão ao comércio de escravos a importância central que teve desde o ano 1500 até ao fim de 1800 durante o desenvolvimento da sociedade capitalista em que vivemos hoje? Hoje em dia o comércio de escravos só é normalmente referido em pequenas observações como se trata-se de um pequeno acontecimento sem importância.
Em Portugal tem-se, por exemplo, festejado nos últimos anos (1997), os 500 anos dos chamados ”descobrimentos” portugueses. Tem havido festas, discurssos, conferencias, exposições, livros novos sobre o tema, etc. Padres, doutores e professores participam em debates e palestras e escrevem artigos nos jornais (sempre bem pagos, claro está). Mas do comércio de escravos quase nunca se fala e quando é referido é como se se tratasse de um fenómeno sem importancia e sem consequencias para a sociedade em que vivemos hoje.
Qual é então o conhecimento que o povo português nestas comemorações obtém sobre os acontecimentos em África durante esses 500 anos? Um conhecimento histórico totalmente falso!
Da mesma maneira é o comércio de escravos tratado pelos governantes de todas os países europeus. A classe dominante hoje existente é a herdeira cultural da classe dos comerciante de escravos do passado e por isso tudo faz para esconder a verdade ao povo, quer dizer a nós próprios. Há que ter cuidado de não ir nas mentiras da classe dominante e investigar qual é a verdade sobre o passado. Há que ter cuidado com os que nos querem fazer acreditar que todas as pessoas na Europa tinham um interesse comum no comércio de escravos, que todos são culpados pelos crimes contra os povos de África.
A Europa na idade média era uma sociedade de classes onde existiam diferentes ideias e concepções sobre o desenvolvimento social, ideias e concepções essas dependentes da origem de classe. A razão porque nós hoje só conhecemos a concepção da classe dominante do passado, também no que respeita ao comércio de escravos, é que a classe dominante de então tinha todos os meios e poderes necessários para propagar a sua ideologia e opiniões e faze-las impôr á sociedade. Ao seu seviço tinham policias, padres, militares, prisões, juizes e propagandistas de todos os tipos, enfim tudo o que fazia parte do poder estatal. Tudo isto dominou a sociedade durante muitos anos e deixou uma herança funesta.
Mas na realidade existiam também os que eram contra o comércio de escravos e contra a opressão que dominava na Europa. Essas pessoas tinham poucas possibilidades de dar a conhecer as suas opiniões e foram esquecidas na investigação histórica sendo hoje um capitulo desconhecido do público em geral. Até mesmo na classe dominante do passado, entre a nobreza e o clero, existiram pessoas que se opuseram à guerra e ao comércio de escravos em África e que desta maneira foram contra o seu interesse de classe.
Ao contrário do povo, que era analfabeto e por isso mesmo não nos deixou as suas opiniões a não ser em passagens nos contos da classe dominante, os oponentes provenientes da classe dominante, embora também muítas vezes analfabetos, tinham a possibilidade de mandar escrever as suas opiniões e pareceres o que nos chega até hoje. Deixemos aqui um exemplo, talvez um dos primeiros opositores contra a matança que as classes dominantes europeias estavam a fazer em África. O seu nome era Infante D. João sendo sobrinho do Infante D. Henrique. O escrivão Rui de Pina foi encarregado de escrever as opiniões do Infante D. João sobre a guerra que os portugueses faziam contra os mouros em África, para onde a nobreza enviava os seus chefes e tropas em oposicão ao povo português que não queria deixar as suas casas e quintas.
O Infante D. João pensava que se a guerra era ao serviço de Deus ”todos não iriam com tal intenção que uns por honra, outros riqueza e ganança, besteiros, peõs e tôda outra gente, vão renegando, ainda que lhe preze; e quem mata Mouro com tal intenção não peca menos que matar Cristão; pois que serviço de Deus é dar tantas almas ao demo? Certamente mais se pode dizer deserviço que serviço”. Sém dúvida é este testemunho de muito interesse e só é pena hoje não sabermos o que pensavam o povo trabalhador que não queriam deixar as suas casas para ir fazer a guerra em África.
A classe no poder combatia toda a oposição e utilizava o aparelho de estado para fazer propaganda das suas opiniões. Por esta razão é muito importante conhecer o papel que estes propagandistas das classes dominantees tiveram no aparecimento do rasismo. Esses propagandistas, que eram dirigidos directamente pelas casas reais e pela oligarquia financeira, encontravam-se entre os professores nas escolas e universidades e nos prelados da igreja cristã, de onde os preconceitos rasistas se espalhavam com uma capa ”cientifica” e ”moral”. Fonte: http://migre.me/pA5ta
 

O Triângulo do Comércio (de Escravos) - (Transcrição)

Quando alguém pára e reflete através da incrível quantidade de seres humanos que foram vendidos como escravos, principalmente durante 1650 a 1850, pode-se compreender que isto era uma parte de um processo muito grande. Milhões de pessoas foram compradas em África como escravos em troca de mercadorias européias, com armas de fogo, tecidos, barras de ferro, utensílios de cobre ou aguardente. Essas pessoas foram transportadas posteriormente para a América, onde trabalhavam gratuitamente para os proprietários de minas ou plantações e criaram no continente americano poderosa riqueza em mercadorias como açucar, tabaco, algodão, rum, ouro, prata e pedras preciosas. Essas mercadorias eram transportadas por sua vez para a Europa e vendidas de forma muito lucrativa. Uma parte do lucro dessas transacões era reinvestido nas fábricas na Europa e novas mercadorias européias eram transportadas para a África para a compra de mais escravos. A este comércio, usa chamar-se de o Triângulo do Comércio ou o Círculo do Comércio.
 
Triângulo do Comércio
 
O papel especial dos escravos neste ciclo de criacão de riqueza não deve ser esquecido. Os escravos não eram negros ignorantes e preguiçosos que só serviam para serem utilisados como simples ferramentas, como dizem historiadores racistas. Os escravos eram na verdade gente trabalhadora que tinah sido raptada, camponeses e artesãos com um espectro muito amplo de conhecimento profissional. Os seus conhecimentos em diferentes profissões foram na realidade muito decisivo para o progresso nas minas e plantacões. Eles trabalhavam como carpinteiros, pedreiros, agricultores, calcetadores, ferreiros, pintores, marceneiros, ourives e artistas e muito mais. A destreza e o conhecimento básico profissional tinham eles trazidos das suas terras de origem.
Detrás do Triângulo do Comércio estavam as monarquias européias, a Igreja e em parte outros financiadores. Os reis vendiam autorizações para a prática do comércio de escravos ou financiavam esse comércio com dinheiro próprio. Por outro lado membros das classes superiores, nobreza ou a classe burguesa, formavam companhias com a bencão da Casa Real, compravam a licença real e entravam no negócio do comércio de escravos. Muitos deles eram proprietários de navios ou estaleiros de barcos, fabricantes de armas ou tecidos na Europa e proprietários de minas e plantações na América.  Fonte: http://migre.me/pA5ta

Transporte de escravos de África para América (Transcrição)

 
 


A mortalidade nos navios negreiros era aterradorament alta, 20 a 30 porcento dos prisioneiros morriam durante a travessia. Ás vezes os escravos faziam motim contra este terrível destino e algumas vezes conseguiram tomar os navios. Na maioria dos casos os comerciantes de escravos derrotavam os escravos revoltados que eram punidos em banhos de sangue sádicos. 
Fonte: http://migre.me/pA5ta

O ferro de marcação de escravos da Companhia da Guiné (Transcrição)

Após serem marcados os prisioneiros eram levados de volta à prisão, onde esperavam até serem levados para os navios negreiros que esperavam no porto. A viagem podia ser para uma fortaleza ou depósitos de escravos, construídas pelos países europeus ao longo da costa da África ou diretamente para a América. As primeiras grandes Fortalezas nas costas ocidentais da África chamavam-se São Jorge da Mina, mais tarde batizada de Elmina. Foi construida pelos portugueses entre os anos de 1481 a 1489, a uma distancia de 50 quilometros ao sul do Cape Coast no atual país Gana. O Rei de Portugal, D. João II que decidiu construir o forte enviou navios com 500 soldados, 100 trabalhadores de construção e tudo que era necessário em material de construção. O forte foi provido com torres altas, fosso cavadas na rocha e armado com 400 canhões. O forte Elmina foi construido para manter no cativeiro mil escravos! O tamanho e as propriedades da fortaleza demonstram claramente os grandes negócios com escravos que se planificavam. O rei D. João II recebeu do Papa Xisto IV o perdão de todos os pecados, para todos os cristãos que morressem em S. Jorge da Mina.
A viagem para a América era para as pessoas prisioneiras, uma viagem para o desconhecido. Nenhum dos escravos sabia o que aconteceria e muitos nunca antes tinham visto o mar. A bordo dos navio de escravos a vida era um inferno indescritível. Os escravos eram aprisionados com algemas de ferro, nas mãos e nos pés e obrigados para baixo para um logar nos porões do navio. Alí eram postos muito juntos, em um espaço pouco maior do que o proprio corpo ocupava. Os Porões eram separados em vários pisos, com uma altura, no geral, de mais ou menos 80 centímetros, nunca mais de um metro. Aqui os escravos eram obrigados a estarem deitados ou assentados. No navio negreiro inglês Brooks, a altura dos pisos onde os escravos eram encerrados era de 78 centímetros. O espaco para cada escravo masculino, no navio Brooks, era de 183 cm de comprimento por 40 cm de largura. Para as mulheres 175 x 40 cm, para rapazes 152 x 35 cm e meninas 137 x 30 cm. Em muitos navios negreiros os escravos era também presos com algemas em volta ao pescoço.

Para a história do comércio europeu de escravos de África De 1441 a 1900 (Transcrição)

Comércio de escravos e racismo:o berço do capitalismo de Mário Sousa
Foram caçados como animais, aprisionados aos milhares, marcados com ferros em brasa, vendidos, transportados sobre o oceano Atlântico e vendidos mais uma vez, em leilão em praça pública, para o trabalho escravo nas minas e plantações no continente americano. Falamos dos 50 milhões de africanos que num período de 450 anos – a partir de meados de 1400 até a meados de 1900 – foram vítimas do comércio europeu de escravos. No jornal sueco “Proletären”, do Partido Comunista – KPML(r), no verão de 1997, Mário Sousa escreveu a história do comércio de escravos - como o comércio de seres humanos esteve na origem da riqueza e do capitalismo na Europa e como destruiu civilizações e culturas superiores desenvolvidas em África. É uma história dramática e terrível, com muitas vítimas e muitos criminosos. O cristianismo joga um papel especial e pouco lisonjeiro no contexto.
A Igreja Cristã, Católica e Protestante, abençoou o comércio de escravos. ”Cada um que participar desta guerra receberá o perdão de todos os seus pecados”, como está escrito na bula Papal. E não só. A Igreja também participou activamente no comércio de escravos.
Da mesma maneira também todas as casas reais da Europa investiram e ganharam muito dinheiro com o comércio esclavagista.
Também a casa real da Suécia. O facto é que a actual Coroa sueca, herdeira dos Bernadottes, através do seu ancestral o rei Karl XIV Johan, possuía enormes rendas do comércio de escravos na Índias Ocidentais
Marcação com ferro em brasa
Todos os prisioneiros comprados eram marcados no peito ou nos braços com um ferro em brasa, imprimindo as diferentes marcas das companhias de escravos. A Companhia Afro-Britânica tinha a marca DY, Duke of York, a defenicão formal da monarquia Britânica. A monarquia de Portugal usava uma cruz de Cristo. A grande Sociedade Bíblica, The Society for Propagation of Gospel, marcava ”seus escravos” com as iniciais SPG. A firma inglesa Companhia da Guiné utilizava as iniciais GHC. Fonte: http://migre.me/pA5ta

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Parte 01 - OS MINAS EM MINAS: TRÁFICO ATLÂNTICO, REDES DE COMÉRCIO EMETNICIDADE.(Transcrição)




Fonte http://migre.me/pA4vZ
Fonte: http://confrontos.no.sapo.pt/page7a.html
Ao redesenhar o caminho percorrido pelos maki e pelos mina de um modo geral, passei a redefinir duas categorias chaves da historiografia do tráfico: tráfico atlântico e tráfico interno. A rota de distribuição dos maki permite perceber que vindos da Costa da Mina, aportam em Salvador, de onde são distribuídos para Rio de Janeiro, Minas e Goiás. Para o Rio seguem por mar, para Minas e Goiás usam também o chamado Caminho do Sertão. Os História: Frontriras que são mandados para o Rio de Janeiro por mar são aí distribuídos para o interior da capitania por vários pequenos caminhos que se bifurcam do principal deles: o chamado Caminho Velho ou Caminho do Ouro que liga Paraty a Minas Gerais. Nesse sentido, uma parte do que é considerado pela historiografia como "tráfico interno" deve ser tomado como um trecho interno desta grande rota atlântica que sai de vários pontos da Costa da Mina (os maki vêm do interior do atual Daomé) para chegar a diferentes pontos da América portuguesa e também espanhola, com número variado de escalas intermediárias que correspondem também a uma cadeia de negociantes de maior ou menor porte.


Fonte: Maria de Carvalho Soares Universidade Federal Fluminense - S621 Simpósio Nacional da Associação Nacional de História (20: 1999: Florianópolis) História: fronteiras / Associação Nacional de História. São Paulo: Humanitas / FFLCH / USP: ANPUH, 1999.
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Fonte: http://www.novomilenio.inf.br/santos/mapa106g.htm

terça-feira, 21 de abril de 2015

História

História: Já houve quem aventasse a ideia de que os escravos que trabalhavam nos engenhos de açúcar no Brasil Colonial tinham uma alimentação, sob ce...

terça-feira, 7 de abril de 2015

Cruz e Souza - O Poeta do Desterro, de Sylvio Back | SESCTV



Nota: Indicação de leitura - Mais sobre Presença e silêncio da colônia à pós-modernidade: sina-is do personagem negro na literatura brasileira

Presença e Silêncio da colônia à pós-modernidade: sina-is do personagem negro na Literatura brasileira é um livro que analisa livros, e pela análise deles, ?lê? a sociedade brasileira, da colonial à pós-moderna que aí está. Seu foco é a presença do negro no arcabouço social, as resultantes de suas relações e os modos de repercussão desses fatos, no emprego, artístico ou não, da palavra escrita.

Modos que denunciam 500 anos de comprometimento da Literatura com textos não-estéticos, deles referendando ideologias dominantes e reverberando discursos hegemônicos, prova do seu envolvimento com a estrutura brancocêntrica interessada na perpetuação do establishement. Modos que nos levam a entender os porquês do abespinhamento da elite de hoje com o novo ethos do negro brasileiro, que na avaliação dela é uma ameaça à peça de ficção montada por si e seus antecessores, ao longo de séculos de dominação.
Da elite que, inconformada, interpreta como tentativas de transformar o Brasil numa nação bicolor, condições e pensamentos que possibilitam novos discursos e novas práticas sociais, esquecendo-se de que o Brasil é dividido em negros e brancos, pelo menos desde 1534, quando aqui chegaram, como escravos, os primeiros negros. Esquecendo-se de que a autoria desta divisão não é dos escravos, mas, sim, dos senhores, que não por acaso eram brancos e donos do poder; e da sociedade, deles delegatária da missão de preservar o status quo que transcende relações sociais do cotidiano, e norteia livros, principalmente, os de Literatura.
É neste aspecto que a Literatura desrespeita compromissos básicos, tacitamente assumidos com a pluralidade e a polissemia, e se transforma num eficaz mecanismo em prol dos interesses da classe dominante.
http://migre.me/pnjrD